Para
realizar a minha monografia fui em busca de algumas informações sobre a
formalidade dessa confecção. Encontrei o Minimanual de Monografia Jurídica, uma
obra de Daniel Rodrigues Aurélio, da Editora Rideel/2008.
Grande
foi a surpresa, como já tive que cumprir com essa tarefa anteriormente, em
graduação e pós, achava que já sabia o básico, mas percebi que tenho muito que
aprender.
Segue
um pedacinho só pra vocês ficarem com vontade:
"Para começar, essa história de escrever difícil é papo-furado. Nenhum manual de redação
científica se prestaria a ensinar um disparate desses. Contudo, a vontade de soar erudito
às vezes bate forte nos corações e mentes dos pesquisadores. Assim, consagrou-se entre
nós uma montanha de vícios de linguagem. É efeito bola de neve, mesmo. Repete-se até
virar epidemia. O sujeito se gradua, faz mestrado, defende o doutorado, vira professor e passa os erros, quer dizer, os cacoetes para frente. Os vícios mais corriqueiros são:
1. Substituir palavras por seu sinônimo não usual.
Exemplo: “encobrir” vira “sobrepujar”; “semanal” é trocado por “hebdomadário”. Num trecho ou outro, vá lá, tem a sua graça. Exagero é pedantismo e trava a comunicação.
2. Utilizar
a primeira pessoa do plural mesmo quando o trabalho é realizado e assinado
individualmente: “Nós consideramos esse caso...” ou “Obtivemos tal amostragem...”. Essa “coletivização” da monografia é um enigma lingüístico...
3. O repertório de vocábulos tem de se afastar dos extremos; nem escasso (denotando desleixo e deficiência de leitura), nem floreado (para o monografista não passar por herdeiro temporão dos parnasianos). O parâmetro é a exatidão técnica e a clareza na exposição.
Num texto acadêmico-científico eficiente, nada falta, nada sobra –
cada expressão tem uma função definida no conjunto textual. Por essa razão, as ciências dispõem
de um arcabouço de terminologias catalogadas e denominadas “termos técnicos”. A despeito da obrigação de se respeitar o jargão técnico, e de zelar para que o estilo não anule o conteúdo, o texto acadêmico-científico não precisa ser desprovido de qualidades literárias.
Siga abaixo alguns toques para se escrever com elegância, sem se perder na ficção ou no mero discurso panfletário:
1. Ler, ler e ler. A leitura – e compreensão – das obras relativas ao tema desenvolvido trazem fundamentação e coerência à argumentação do monografista. A leitura de obras literárias e jornalísticas apura a gramática e os recursos de vocabulário e estilo.
2. Evite parágrafos quilométricos. Sabe aqueles longos trechos, sem pausas para se tomar
fôlego? Nos romances de José Saramago e Raduan Nassar, esse recurso narrativo engrandece a obra. Numa monografia, é desperdício de caracteres. Afora a ficção dos gênios, um parágrafo adequadamente estruturado é composto por abertura, argumentação, síntese e fechamento. Edite o parágrafo com as passagens essenciais e, se for o caso, “puxe” uma nota explicativa e continue lá a desenvolver o assunto.
3. Pontue as frases com correção. Use vírgulas, sim, mas não negligencie os ponto-e-vírgulas (;) e os pontos finais (.). Mescle frases curtas e diretas com outras mais longas e digressivas. Preste atenção à pontuação; é o texto quem vai “pedir” vírgulas e/ ou pontos finais. Escreva um capítulo, pare, respire, leia e releia. Coloque-se na posição do leitor. Veja se está compreensível. Muitos monografistas – e escritores – pecam por não fazer esse exercício elementar. A escrita se transforma após uma revisão gramatical.
4. Peça para colegas e professores lerem seus textos. Embora seja uma tarefa solitária, escrever é um modo de se comunicar, e é vital que conteúdo, forma e estilo estejam acessíveis ao leitor. Consulte, se possível, um revisor ou preparador – pior do que texto ruim é texto pontilhado por caneladas gramaticais. Revisar não é escrever, viu?
5. Nada de coloquialismos, gírias e o “internês” do MSN ou do Orkut.
6. Como diria o professor Pasquale Cipro Neto, o problema não é o gerúndio, é o gerundismo. TCC não é script de telemarketing, correto? Fuja do gerundismo, senão a banca examinadora “estará enviando” sua monografia para a lata do lixo.7. Siga o vocabulário jurídico. Por lidar com formalidades, leis e contratos sociais, a norma culta é a marca registrada do Direito. Já as expressões em latim são artifícios retóricos que remetem às origens do Direito moderno. Quando o latinismo for termo técnico – exemplo: habeas
corpus –, utilize-o sem medo de ser feliz. Quando houver equivalente em português, tenha bom senso."
E
ai, pegou o espírito da coisa?
Boa
sorte e mãos à obra.
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